AULA DOIS - LITERATURA - ANÁLISE DOM CASMURRO
AULA DOIS – LITERATURA – 3º BIMESTRE
“DOM
CASMURRO” – ANÁLISE DA OBRA DE MACHADO DE ASSIS
Fonte - guiadoestudante.abril.com.br
Entenda os principais aspectos da obra
Publicado pela primeira vez em 1899, “Dom Casmurro” é uma das grandes obras de Machado de Assis e confirma o olhar certeiro e crítico que o autor estendia sobre toda a sociedade brasileira. Também a temática do ciúme, abordada com brilhantismo nesse livro, provoca polêmicas em torno do caráter de uma das principais personagens femininas da literatura brasileira: Capitu.
Muitas leituras possíveis
Há uma discussão em torno da obra que
alimenta os espíritos mais inflamados: Capitu
traiu ou não seu marido Bento Santiago,
o Bentinho?
O romance, entretanto, presta-se a muitas
leituras, e é interessante ver como a recepção ao livro se modificou com o
passar do tempo. Quando foi lançado, era visto como o relato inquestionável de uma
situação de adultério, do ponto de vista do marido traído. Depois dos anos
1960, quando questões relativas aos direitos da mulher assumiram importância
maior em todo o mundo, surgiram interpretações que indicavam outra
possibilidade: a de que a narrativa pudesse ser expressão de um ciúme doentio,
que cega o narrador e o faz conceber uma situação imaginária de traição.
Machado de Assis, autor sutil e de penetração
aguda em questões sociais, arma o problema e testa seu leitor. É impressionante
como isso vale ainda hoje, mais de um século depois do lançamento do livro. O
romance é a história de um homem de posses que ama uma moça pobre e esperta e
se casa com ela. Em sua velhice, ele escreve um romance de memórias para
compreender melhor a vida.
Capitu, até a metade do livro, é quem dá as
cartas na relação. É inteligente, tem iniciativa, procura articular maneiras de
livrá-lo do seminário etc. Trata-se de uma garota humilde, mas avançada e
independente, muito diferente da mulher vista como modelo pela sociedade
patriarcal do século XIX. Nesse sentido, Capitu representa no livro duas
categorias sociais marginalizadas no Brasil oitocentista: os pobres e as
mulheres. A personagem acabará por “perturbar” a família abastada, ao casar-se
com o homem rico.
Percebe-se, por isso, o peso do possível
adultério em suas costas. Não se trata apenas de uma questão conjugal entre
iguais, mas de uma condenação de classe. Bentinho utiliza o arbítrio da palavra
para culpar sua esposa. Mas é ele quem narra os acontecimentos e, por isso,
pode manipular os fatos da maneira que melhor lhe convém. Não se sabe até que
ponto os fatos relatados correspondem ao que ocorreu, ou são uma interpretação
feita pelo personagem, que, além de tudo, escreve que não tem boa memória.
Nesse sentido, a questão central do livro não
é o adultério, e sim como Machado introduz na literatura brasileira o problema
das classes e, ainda, de forma inovadora, a questão da mulher. Dom Casmurro
coloca no centro de sua temática a menina que não se deixa comandar e, em
virtude disso, perturba a ordem vigente naquele ambiente social estreito e
conservador.
Paródia
Uma das formas mais clássicas que assume o
humor e a ironia de Machado de Assis é a paródia. Uma paródia seria uma
imitação cômica de um outro texto literário (pode ser também de uma música,
filme, estilo, filosofia, etc.) já consagrado pela tradição. Em “Dom Casmurro”,
temos três grandes paródias:
1) “Ilíada” de Homero: no capítulo 125, “Uma
comparação”, Bentinho é obrigado a fazer um discurso em honra do suposto amante
de sua mulher. Em Ilíada, o rei de Tróia, Príamo, teve que beijar a mão de
Aquiles, assassino de seu filho Heitor.
2) “Otelo”, Shakespeare: a vida de Bentinho é
sempre narrada com o mesmo tom trágico de uma ópera. Sua maior aproximação é
com a peça Otelo, devido ao tema do ciúme e traição presente nas duas obras.
3) O mito de Abraão e Isaac: no Velho
Testamento, Deus pede que Abraão sacrifique seu filho Isaac em seu nome. Porém,
na hora em que Abraão ia imolar seu próprio filho, o Anjo do Senhor aparece
impedindo e um carneiro é oferecido em lugar de Isaac. Em “Dom Casmurro”, a mãe
de Bentinho promete seu filho a Deus (ele seria padre) antes mesmo de o
conceber. Porém, Bentinho se apaixona por Capitu e eles lutam para ficarem
juntos. O amor de Capitu consegue anular a promessa feita pela mãe dele e assim
os dois podem se casar.
Narrador
O narrador é Bento Santiago, transformado já
no velho Dom Casmurro. O foco narrativo é, portanto, em primeira pessoa e toda
a narrativa é uma lembrança do personagem sobre sua vida, desde os tempos de
criança, quando ainda era chamado de Bentinho. Porém, trata-se de um narrador
problemático: primeiro porque o narrador é um homem emotivamente arrasado e
instável; segundo porque ele narra fatos que não conhece bem, podendo ser tudo
fruto de sua imaginação.
Tempo
O tempo da narrativa é psicológico, e não cronológico.
Esse recurso é chamado impressionismo, porque o narrador se detém nas
experiências que marcaram sua subjetividade. Seria usada pelo escritor francês
Marcel Proust em sua obra Em Busca do Tempo Perdido. A falibilidade da memória
surge como fator de complexidade, uma vez que uma lembrança só pode ser
acessada de um momento presente.
Os acontecimentos, então, passam pelo filtro
da subjetividade presente. É por isso que a descrição que o narrador faz de
Capitu, como uma pessoa volúvel e sensual, deve ser posta em dúvida pelo
leitor. O sentimento de ciúme exacerbado de Bento pode ter desvirtuado a figura
da personagem.
Comentário do professor
A profa. Aparecida Augusta Barbosa, do
Cursinho do XI, lembra que “Dom Casmurro” é uma obra publicada na segunda
metade do século XIX, período de desenvolvimento do cientificismo, que procura
resultados exatos para explicar o mundo. Assim, há uma proposta artística de
desnudar o real e desvendar os contrastes do íntimo, tentando explicá-los com
os métodos científicos. Além disso, dentro de um contexto histórico trata-se de
um período repleto de mudanças sócio-políticas e intelectuais, tais como a
abolição da escravatura (1888), a Proclamação da República (1889), a entrada de
imigrantes no país, e a modernização do Brasil com a dinamização da vida social
e cultural, principalmente no Rio de Janeiro, sede do governo na época. Assim,
afirma a prof. Augusta, era um momento propício para as artes absorverem as
novas ideias vindas da Europa, tais como o liberalismo, o socialismo e as
teorias cientificistas.
Dentro desse contexto histórico-cultural é
que precisa-se pensar a obra de Machado de Assis. “Dom Casmurro” é uma obra
narrada em primeira pessoa por um homem já velho e solitário, que está tentando
“atar das duas pontas da vida” (infância e velhice). O tom do romance, que é
construído em flashback, é de uma pessoa desiludida e amargurada, e sua visão
dos fatos narradas é totalmente subjetiva e unilateral. Por conta disso, o
livro adquire diversas leituras possíveis e permanece-se com a dúvida sobre o
adultério de Capitu, afirma a profa. Augusta.
Além disso, a linguagem utilizada por Machado
de Assis é marcadamente acadêmica e bem cuidada, sendo clássica e regida pelas
normas de correção gramatical estabelecidas. Entretanto, há o registro em
alguns pontos de aspectos típicos da língua utilizada pela personagem e
registros mais informais e informais da língua portuguesa. Assim, a linguagem
usada pelas personagens e o nível social dos protagonistas pode ser uma questão
abordada pelos vestibulares, finaliza a profa. Augusta.
Agora pode comentar/; o que você pensa sobre a forma de escrever do século XIX? Pode ser sincero. Não tem resposta certa ou errada, apenas opiniões que você tem direito de expressar.
ResponderExcluirJá tem um bom tempo que leio livros mais antigos, no começo foi cansativo, por não entender grande parte da escrita, os mesmos carregam uma linguagem mais cordial, no entanto, com o passar do tempo, se tornou algo muito prazeroso, gosto do modo como a frase é construída, podemos notar também que a história tem uma maior riquezas de palavras, e gosto de compara o jeito que a língua se modificou com o passar do tempo.
ResponderExcluirNicolly, n°30