PRINCIPAIS OBRAS DO PRÉ-MODERNISMO - TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA

LITERATURA - CONTEÚDO TRÊS  (aula 9)
3 A - 10 de abril de 2019
3 B - 11 de abril de 2019

PRINCIPAIS OBRAS DO PRÉ-MODERNISMO

A partir desta aula, dada na segunda semana de abril de 2019, abordaremos quatro relevantes obras dos principais autores do Pré-Modernismo. A primeira a ser abordada é Triste Fim de Policarpo Quaresma. Mais que um resumo, trata-se de uma análise crítica acerca da obra. A fonte é o site "Toda Matéria". Para quem se interessar, segue também o filme completo.

1) TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA




Triste Fim de Policarpo Quaresma é uma obra do escritor pré-modernista Lima Barreto (1881-1922). Trata-se de um dos maiores clássicos do período - e de toda a literatura brasileira..
Dividida em três partes, ela foi publicada em 1911 nos folhetins do Jornal do Commercio. A obra integral foi publicada em livro em 1915.

Personagens

  • Policarpo Quaresma: funcionário público e protagonista da obra. É um exímio patriota, erudito e apaixonado por livros.
  • Ricardo Coração dos Outros: professor de violão de Quaresma.
  • Olga: afilhada de Policarpo.
  • Vicente Coleoni: pai de Olga.
  • Amando Borges: marido de Olga.
  • Adelaide: irmã de Quaresma que morava com ele.
  • Anastácio: caseiro de Quaresma.
  • Mané Candeeiro: empregado do sítio de Quaresma.
  • Felizardo: empregado do sítio de Quaresma.
  • Sinhá Chica: esposa de Felizardo.
  • Tenente Antonino Dutra: escrivão e funcionário da prefeitura de Curuzu.
  • Doutor Campos: presidente da Câmara de Curuzu.
  • General Albernaz: vizinho de Quaresma.
  • Dona Maricota: esposa do general Albernaz.
  • Lulu: aluno do Colégio Militar e filho do general.
  • Ismênia: filha mais velha do general Albernaz e de Dona Maricota. Também é noiva de Cavalcanti.
  • Cavalcanti: estudante de odontologia e noivo de Ismênia.
  • Quinota: filha do general Albernaz e de Dona Maricota. É esposa de Genelício.
  • Genelício: escriturário do Ministério da Fazenda e noivo de Quinota.
  • Zizi: filha do general Albernaz e de Dona Maricota
  • Lalá: noiva do tenente Fontes, filha do general Albernaz e de Dona Maricota.
  • Tenente Fontes: artilheiro e noivo de Lalá.
  • Vivi: filha do general Albernaz e de Dona Maricota.
  • Contra-Almirante Caldas: amigo do general Albernaz.
  • Doutor Florêncio: engenheiro e amigo do general Albernaz.
  • Senhor Bastos: contador e amigo do general Albernaz.
  • Capitão de Bombeiros Segismundo: amigo do general Albernaz.
  • Marechal Floriano: governante do país. Ele foi presidente do Brasil de 1891 a 1894.




Resumo da Obra


O romance relata a história de Policarpo Quaresma, um funcionário público que pretende valorizar a cultura do país.
A história tem início em fins do século XIX e tem como espaço a cidade do Rio de Janeiro. Ali, Quaresma é o subsecretário do Ministro de Guerra.
Uma de suas ações é propor ao Ministro o reconhecimento da língua tupi, como língua nacional. Isso porque ele tem uma postura nacionalista forte e segundo ele, os índios são os verdadeiros brasileiros.
Após esse evento, Quaresma é tido como louco e permanece um tempo internado. Durante esse período Olga, seu compadre e o professor de violão, Ricardo Coração dos Outros, que acreditam em suas ideias, são os únicos a visitá-lo.
Após sair do hospital psiquiátrico, ele resolve se afastar da sociedade e passa a viver num sítio. O local ficou conhecido como “Sítio do Sossego” e estava localizado na cidade interiorana de Curuzu.
Ainda que sua proposta inicial tivesse associada ao cultivo e a dedicação à agricultura, com o tempo ele começa a se aproximar de algumas pessoas.
A partir daí, Quaresma se envolve com diversos políticos locais. Durante a Revolta da Armada ele vai ao Rio de Janeiro, com o intuito de apoiar o governo do Marechal Floriano que estava sendo enfrentado pela Marinha do país.
No entanto, ele acaba sendo preso. Desiludido com a falta de patriotismo do povo, Quaresma encontra na figura do presidente um totalitário e cruel ditador.
Acusado de traição pela Marechal Floriano, Quaresma é preso e condenado ao fuzilamento.

Análise da obra
Inserida nos primeiros anos da república no país, a obra faz uma análise da sociedade brasileira da época. A maior crítica recai sobre o universo da política do país.
Num tom profético, Barreto aborda questões como as injustiças sociais, o clientelismo, a burocracia, os interesses pessoais e políticos, dentre outros.
Por meio do nacionalismo exacerbado e da postura ingênua e idealista do protagonista, o escritor traz à tona questões de denúncia social.
Em algumas passagens é possível identificar o tom irônico e cômico utilizado como recurso estilístico. Floriano Peixoto é um personagem real da história do país, sendo uma figura que oferece maior veracidade aos fatos apresentados.
Além disso, algumas guerras, que de fato aconteceram, também são mencionadas, por exemplo: a Revolta da Armada, a Guerra do Paraguai e a Revolução Federalista.
Para compreender melhor a linguagem de Lima Barreto, confira abaixo alguns trechos das três partes da obra:
Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário, bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa.
Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário, bem exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um eclipse, enfim um fenômeno matematicamente determinado, previsto e predito.
A vizinhança já lhe conhecia os hábitos e tanto que, na casa do Capitão Cláudio, onde era costume jantar-se aí pelas quatro e meia, logo que o viam passar, a dona gritava à criada: “Alice, olha que são horas; o Major Quaresma já passou.”
E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida superior aos seus recursos burocráticos, gozando, por parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado.”
Não era feio o lugar, mas não era belo. Tinha, entretanto, o aspecto tranqüilo e satisfeito de quem se julga bem com a sua sorte.
A casa erguia-se sobre um socalco, uma espécie de degrau, formando a subida para a maior altura de uma pequena colina que lhe corria nos fundos. Em frente, por entre os bambus da cerca, olhava uma planície a morrer nas montanhas que se viam ao longe; um regato de águas paradas e sujas cortava-a paralelamente à testada da casa; mais adiante, o trem passava vincando a planície com a fita clara de sua linha capinada; um carreiro, com casas, de um e de outro lado, saía da esquerda e ia ter à estação, atravessando o regato e serpeando pelo plaino. A habitação de Quaresma tinha assim um amplo horizonte, olhando para o levante, a “noruega”, e era também risonha e graciosa nos seus caiados. Edificada com a desoladora indigência arquitetônica das nossas casas de campo, possuía, porém, vastas salas, amplos quartos, todos com janelas, e uma varanda com uma colunata heterodoxa. Além desta principal, o sítio do “Sossego”, como se chamava, tinha outras construções: a velha casa da farinha, que ainda tinha o forno intacto e a roda desmontada, e uma estrebaria coberta de sapê.”
Havia mais de uma hora que ele estava ali, num grande salão do palácio, vendo o marechal, mas sem lhe poder falar. Quase não se encontravam dificuldades para se chegar à sua presença, mas falar-lhe, a cousa não era tão fácil.
O palácio tinha um ar de intimidade, de quase relaxamento, representativo e eloquente. Não era raro ver-se pelos divãs, em outras salas, ajudantes-de-ordens, ordenanças, contínuos, cochilando, meio deitados e desabotoados. Tudo nele era desleixo e moleza. Os cantos dos tetos tinham teias de aranha; dos tapetes, quando pisados com mais força, subia uma poeira de rua mal varrida. Quaresma não pudera vir logo, como anunciara no telegrama. Fora preciso pôr em ordem os seus negócios, arranjar quem fizesse companhia à irmã. Fizera Dona Adelaide mil objeções à sua partida; mostrara-lhe os riscos da luta, da guerra, incompatíveis com a sua idade e superiores à sua força; ele, porém, não se deixara abater, fizera pé firme, pois sentia, indispensável, necessário que toda a sua vontade, que toda a sua inteligência, que tudo o que ele tinha de vida e atividade fosse posto à disposição do governo, para então!... oh!

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