LITERATURA - Conteúdo Três

TRECHO DE "O JUIZ DE PAZ DA ROÇA"

Escrivão, lendo - Diz Francisco Antônio, natural de Portugal, porém brasileiro, que tendo ele casado com Rosa de  Jesus, trouxe esta por dote uma égua. “Ora, acontecendo ter a égua de minha mulher um filho, o meu vizinho José da  Silva diz que é dele, só porque o dito filho da égua de minha mulher saiu malhado como o seu cavalo. Ora, como os  filhos pertencem às mães, e a prova disto é que a minha escrava Maria tem um filho que é meu, peço a V.S.ª mande o dito meu vizinho entregar-me o filho da égua que é de minha mulher.”

Juiz - É de verdade que o senhor tem o filho da égua preso?

José da Silva - É verdade; porém o filho me pertence, pois é meu, que é do cavalo.

Juiz - Terá a bondade de entregar o filho a seu dono, pois é aqui da mulher do senhor.

José da Silva - Mas, Sr. Juiz...

Juiz - Nem mais nem meios mais; entregue o filho, senão, cadeia.

José da Silva - Eu vou queixar-me ao Presidente.

Juiz - Pois vá, que eu tomarei a apelação.

José da Silva - E eu embargo.

Juiz - Embargue ou não embargue, embargue com trezentos mil diabos, que eu não concederei revista no auto do 
processo!

José da Silva - Eu lhe mostrarei, deixe estar.

Juiz - Sr. Escrivão, não dê anistia a este rebelde, e mande-o agarrar para soldado.

José da Silva, com humildade - Vossa Senhoria não se arrenegue! Eu entregarei o pequira.

Juiz - Pois bem , retirem-se; estão conciliados. (Saem os dous). Não há mais ninguém? Bom, está fechada a sessão.   Hoje cansaram-me!




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

COLOCAÇÃO PRONOMINAL - Próclise, Mesóclise e Ênclise

GRAMÁTICA - A CRASE (AULA TRÊS)